Você já ouviu falar em dicionário da linguagem das flores?

No século XIX os dicionários das flores eram bem populares na corte portuguesa e essa moda também se espalhou no Brasil. A própria rainha Vitória usou uma tiara com delicados botões de flor-de-laranjeira, durante seu casamento, em 1840. Essas flores estavam dando um recado bem claro: “sua pureza equivale à sua doçura”. A flores de laranjeira, já completamente desabrochadas, estavam associadas à castidade. Os vitorianos sistematizarm os códigos das flores aplicados ao amor numa área do conhecimento chamada “floriografia”. A prova da popularidade dessa linguagem das flores é a quantidade de revistas e almanaques publicados sobre o assunto não só na Inglaterra. Os almanaques de flores portugueses, como já mencionado, circulavam também no Brasil.

Além do uso na cerimônia de casamento, as flores eram empregadas em diferentes situações, como a corte (segundo algumas crônicas, de um rapaz interessado numa moça esperavam-se nada menos que seis meses de belos buquês!), o luto (nesse caso as flores do maracujá eram muito utilizadas,ao lado dos cravos), as danças de grupo nos bailes, etc.

O uso e os significados eram elaborados. Não bastava apenas dar um buquê de flores para alguém, tinha que saber também de que forma seria entregue. Por isso os dicionários desse tipo eram tão populares. Aqui trago um pequeno texto extraído do prefácio dos editores do “Diccionario da Linguagem das Flores” publicado em Lisboa em 1868, onde eles explicam as principais regras no uso dessa linguagem cheia de signficados ocultos:

“Para fazer uso da linguagem das flores poucas regras bastam. A primeira consiste em saber que uma flor apresentada direita exprime um pensamento, e que basta invertê-la para que represente o contrario; assim um botão de rosa de musgo com seus espinhos e folhas quer dizer: eu espero, mas receio; dando-se o mesmo botão voltado signfica: não ha que temer nem esperar. No bilhete que termina a obra vae um exemplo d’esta regra. Algumas modificações feitas na flor que se offerece lhe alteram a significação. Tomemos o botão que nos serviu de exemplo desguarnecido de seus espinhos, e elle nos dirá: ha tudo a esperar; e desguarnecido de folhas e não de espinhos, significa: ha tudo a temer. A significação das flores tambem varia, variando a posição; por exemplo: o malmequer posto no cabello significa pena d’alma; no coração, pena d’amor; no seio crueis tormentos, e na bôca, eu não digo o que sinto. O pronome eu exprime-se inclinando a flor para a direita, e o pronome tu inclinando-a para a esquerda, a terceira pessoa collocando a flor direita; no plural duplicam-se as flores. Taes são as principaes regras d’esta mysteriosa linguagem; o amor e a amisade devem juntar-lhe suas descobertas, porque só estes doces sentimentos podem aperfeiçoar o que só elles têem inventado.

Incrível quantas regras e significados, né? Ainda bem que vivemos em um momento onde não precisamos usar de códigos para dizer como nos sentimos em relação à outra pessoa que está recebendo as flores. E dar flores é um gesto de muito apreço e admiração por alguém.

Tenho uma série de fotografias que tiveram como referência o dicionário das flores do século 19. Elas estão disponíveis na minha loja também! Dá uma olhada e já escolhe a flor com a qual tu queres presentear. E o melhor é que essas não definham e ainda são obras de arte! Clica aqui e escolhe a tua!

E aí, você já sabia disso tudo? Me conta nos comentários o que achaste dessa história.